*Produzido por Carol Scorse, da Social Comunicação, para o Empreender 360
Para inspirar seu 2025, a Embaixadora da Aliança Empreendedora Selma Oliveira conta como a sua busca por “fazer seu nome” a levou para o empreendedorismo e realização pessoal
Quando uma artesã se torna uma artesã? Bom, essa é uma pergunta quase filosófica, levando em conta que o artesanato é uma atividade que envolve a criatividade, além de habilidades e talentos específicos. Uma resposta aqui deve percorrer caminhos diferentes para cada pessoa. Mas é possível entender quando uma artesã ou um artesão se acha, banca o seu talento, e transforma ele no seu meio de vida, no seu trabalho. A história da paulista Selma Oliveira é um bom exemplo.
O primeiro trabalho por conta própria de Selma veio há mais de 25 anos, e consistia em comprar semijoias e peças íntimas, e revender. Para isso, ela usou o dinheiro que recebeu da rescisão de um contrato CLT, com registro na carteira de trabalho. O impulso principal para se lançar em um trabalho feio por ela e para ela foi o questionamento: “Por que eu uso um crachá que leva o nome de outra pessoa no peito?”.
Dentro desse questionamento estava o incômodo de uma vendedora que ajudava outras pessoas a ganhar dinheiro, mas ela mesma não via a sua vida sair do lugar. Bom, é claro que o talento de Selma de fazer as coisas por conta própria não começou aí. Incentivada pela mãe, aprendeu o ofício de cabeleireira ainda na adolescência, e depois o de costureira.
O incentivo veio da mãe, e veio da relação em casa um certo peso sobre a autoestima também. “Parecia que nada do que eu fazia estava bom o suficiente, ou tão bom quanto aquilo que a minha mãe fazia. Por isso, eu fui trabalhar para outras pessoas”, conta.
E trabalhou muito. Trabalhou em fábricas de confecção e depois como representante de planos de saúde, seguradoras e por aí vai. Esse salto de ser funcionária de alguém para ser funcionária de si mesma veio num ato de coragem e de muita incerteza. Seu primeiro filho tinha apenas dois anos. E esse também pode ser um desses reveses que a vida dá, mas que, no final das contas, é capaz de levar um microempreendedor para onde se deve estar.
A vida em fábricas ou em prestadoras de serviços exprimiam seu tempo, e o equilíbrio entre o tempo que precisava ser dedicado também à casa e à família, essa história tão comum para a imensa maioria de mulheres, ficou comprometido. Selma reivindicava seu tempo, e desejava carregar no trabalho o seu próprio nome.
A revenda de semijoias e peças íntimas durou o tempo que teve que durar, e não foi muito. Por outro lado, uma grande amiga que trabalhava produzindo suas próprias bijuterias e queria se desfazer das ferramentas de trabalho, ofereceu o que tinha à Selma. Ela agarrou. Aprendeu a produzir as peças também a partir de um curso que essa mesma amiga ofereceu. Esse ofício durou o tempo que Selma precisou para entender que já havia muita gente no ramo.
“Eu estava em casa brincando com as crianças – Selma teve três filhos – de fazer brinquedos com material reciclável, e me dei conta que esse era um nicho que eu quase não tinha visto nas feiras. Me joguei. Comecei a fuçar em material de descarte, coisa que todo mundo tem em casa e não usa ou não quer mais, e transformar isso em arte, em utensílio doméstico.”
Foi da brincadeira com as crianças que ela pariu a SYLMYS – Artes Diversas. Diversas porque ela faz um bocado de coisa mesmo. Faz bijuteria, caixinhas, sacolas, brinquedos, coisas para casa. Nas mãos de Selma um simples coador de café vira outras trinta coisas. Mas para o lixo não vai. O mundo agradece.
A história de Selma não é única: milhares de mulheres, ao perceberem que podem transformar um talento pessoal em renda por meio de um negócio próprio, passam a enxergar não apenas a possibilidade de ganhar dinheiro, mas também a oportunidade de conquistar protagonismo sobre suas próprias vidas. O microempreendedorismo torna-se, assim, um espaço de realização pessoal e profissional, de ampliação de redes de apoio e de impacto comunitário. O Empreender 360 fala mais sobre isto neste artigo aqui.
O negócio de Selma deu pé, e além dos produtos propriamente, agora ela também dá aulas, cursos e formações para quem quer aprender um novo jeito de fazer artesanato, para idosos com dificuldade de mobilidade e que precisam de atividades para estimular habilidades manuais e de educação ambiental.
“Nada, nada do que eu fiz foi sem formação. Eu fiz muito curso, participei de muita mentoria. Todas as oportunidades de me aperfeiçoar que apareceram eu agarrei, então eu valorizo que novas pessoas tenham acesso a tudo aquilo que eu já aprendi e que posso passar para frente”, explica a artesão e formadora.
Foi assim que Selma chegou até a Aliança Empreendedora. Ela viu uma de nossas formações disponíveis no YouTube, gostou, e logo foi se inteirar sobre a rede de apoio ao micro e pequeno empreendedor. Com a pandemia de Covid-19, um período especialmente cruel com quem dependia de feiras e eventos para vender seus produtos, Selma se inscreveu em um dos nossos programas de apoio, e contou com uma bolsa para segurar o negócio de pé e atravessar a fase difícil.
Hoje, ela é Embaixadora da Aliança, uma rede de empreendedoras de diversas partes do Brasil que acreditam na força do empreendedorismo. De forma voluntária, eles se reúnem online para compartilhar experiências, trocar conhecimentos e mobilizar outros empreendedores em ações locais, engajando e inspirando pessoas em suas comunidades.
Selma participa de reuniões periódicas, onde o grupo troca dúvidas, ideias e conquistas, além de promover os mesmos projetos e cursos que a impulsionaram no passado. Ela ajuda a articular e inspirar outras pessoas, mulheres, artesãs e artesãos, a bancarem o seu talento como profissão. “Não fiquei rica. Empreender não é fácil, tem que se manter focado, se atualizar, formar rede. Mas eu tenho orgulho do que eu faço, e quero fazer muito mais ainda. É uma busca eterna, e cominho pode ser saboroso.”
A motivação de mulheres como Selma transcende as aspirações profissionais: são histórias de vida que reverberam em um esforço coletivo por dignidade, reconhecimento e igualdade. Suas trajetórias, marcadas pela resiliência, tornam-se pilares essenciais para inspirar o avanço socioeconômico e o desenvolvimento pessoal de outras empreendedoras, incentivando-as a transformar suas próprias realidades e as de suas comunidades.